terça-feira, 11 de outubro de 2011

Ele...

Ele acorda de bom humor ao meu lado.
Usa bermuda quando vai à praia.
Tem algumas cicatrizes.
Gosta de velhinhos e crianças.
É querido por minha família e amigos.
O silêncio nunca é problema quando o assunto acaba.
Temos várias afinidades e inventamos outras tantas.
A vontade de ficar perto só aumenta.
Se irrita no trânsito mas é muito educado.
Tem paciência para esperar meus banhos demorados e meus atrasos.
Sabe me fazer rir e gosta das minhas poesias.
É a melhor companhia de viagem.
Sabe contornar o tédio, reinventar saídas e rir de si mesmo.
Fico a vontade ao seu lado para ser leve e espontânea.
Ele também gosta de um sambinha e bebe cerveja.
Vamos a shows e dançamos juntos.
Viu os filmes que eu mais gosto, conversa sobre todos os assuntos e adora viajar.
Joga capoeira comigo.
Coleciona amigos de infância e faz novos por onde passa.
Dirige bem e faz uma ótima baliza.
Vamos juntos ao Morumbi torcer pelo São Paulo.
Gosta muito de batata, coca-cola e kitkat.
Toca violão, escaleta, bateria...
Surfa, anda de skate e fotografa.
Mas perde pra mim no pebolim e na sinuca!
Tem trimiliques antes de dormir, iguais aos meus.
Quais são suas manias, defeitos, chatices?
Não sei, ainda preciso descobrir.

sábado, 21 de maio de 2011

Estou fraca dos sentidos.
É preciso ser forte pra conviver com meus abismos.
Abismos que nascem de desencontros.
Por tantas vezes menti para mim, que dava conta de não ser amada.
Não dou, viu menino, não dou.
Preciso de amor pra suportar. Preciso rir pra achar graça.
Procuro na vida o que ela tem de óbvio, de essencial e de sereno.
Porque sem a serenidade não se pode viver.
Intensidade é pra quem vive mergulhado num mundo que é tão próprio, tão menos burocrático quanto mais atrativo.
As pessoas olham o fosso de cima, querem mergulhar mas são incapazes de ir tão fundo.
Eu não evito minhas profundezas, preciso de alguém que me salve.
Das minhas incoerências, do susto, do amor.
O amor brota das raízes, de dentro do ninho, do oco do mundo.
Não é fácil conviver comigo. Às vezes tenho necessidade de superfícies.

terça-feira, 19 de abril de 2011

Tudo bem

O que foi semente
Hoje, pode-se provar da fruta
Tudo a seu tempo.
O tempo da pausa, o respiro, o fôlego

Meus pés na corda bamba,
Eu que areia movediça...
Eu que me despedaço...
E desespero...

Te quero sereno,
O sossego do outono...
O balanço na rede...
O passeio no parque...

Descabelada,
peço ao cílio:
E o melhor pra nós dois,
Acontece.

segunda-feira, 4 de abril de 2011

Imitação do que sou

Cada vez que finjo ser, acabo sendo. Um pouco mais disso - menos daquilo. Outra que surge dentro do tempo, esquecido no fingimento. Finjo que danço, saio dançando... Finjo que sou acabo sendo. Nuances de mim - reflexos de ti. Vontade de ser. Eu que já sou. E fui, tantas! Só sei ser, sendo...

sábado, 26 de março de 2011

Dos sons que ouço imagino cores
Das comidas que provo grito sabores
Da vida que levo contorno os desprazeres

Caminho despreocupada e me assusto em cada topada
Tentei ser o que não fui e amar-te sem medidas
Quis você na minha vida, cálida

Do meu mais alto voo, observo sua confusa covardia
Sinto muito pela casa bagunçada
e reinvento uma saída...

Carrego comigo desejos e alguma tristeza
Rejeito o morno dos tons pastéis, equilíbrio às avessas
Hoje, nada peço...
fujo da solidão de estar com você

segunda-feira, 21 de março de 2011

Mais uma quebra de protocolo.

Talvez em algum sonho em sépia você ainda apareça. Nos meus labirintos ou na fila da padaria. Quem sabe, nos encontraremos em algum show inusitado e eu deixe você segurar meu guarda-chuva. Ficaremos à toa, em um banquinho qualquer, matando trabalho sem pensar no que virá. Deslumbrados, rodaremos juntos por toda madrugada. Carmen Miranda será nossa única testemunha. Pode ser que a gente se enrole nas roupas do varal, entorpecidos de presença. Você pode me achar vez em quando dentro de um monóculo, ouvindo música distraído ou lavando louça. Os dias talvez passem lentos e eu estou decidida a fugir de você. Se pegar um atalho, pode ser que me encontre antes que eu me perca. A vida passa ligeira e é de se entregar até a última valsa.

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Ela é a menina que sente uma falta danada do colo da vó.
Sente saudades de ficar sozinha jogando cinco marias e de desenhar os móveis da casa.
Passava seus dias em cima da árvore de pitanga, inventava histórias com o avô, jogava rouba monte e mandava no pedaço. Quando cansavam dela, davam logo uma boa dose de caldo de cana e ela dormia que era uma beleza!
Às vezes o telefone toca e ela demora a atender, só pra imaginar que é a vó ligando.
E todas as coisas que a menina queria contar pra vó, que são tantas.
Dividir suas conquistas, seus sonhos e seus planos...
Vovó dizia que a menina era igual a ela, brava, teimosa e tinha o dedo do pé de quem vai mandar no marido.
A menina lembra com carinho do sorriso, do otimismo, do amparo e das broncas.
Saudades.

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Ela sofre de encantos pelo efêmero.
Vive de recomeços e foge daqueles que tentam impor algum ritmo que não o dela.
Os ventos sopram sempre a seu favor.
O universo conspira para que tudo fique na mais perfeita ordem.
Dizem que é mimada pelos deuses.
Ela sofre de quases, quase se apaixona todos os dias e quase morre de amores...
É um pouco exagerada. Erra a mão na dose, se entrega de mais ou de menos.
Não sabe achar o caminho do meio, peca por excessos.
Vive se atropelando e caindo em outra vida, esbarrando em novos amores e novas possibilidades...
Caminha cantando e traz com ela amigos, discos e filmes...receitas, mapas e trajetos, rabiscos e alguma poesia.
Sonha acordada, o tempo todo. Fala palavrão, dança sozinha, inventa um novo curso para fazer, um programa com os amigos, um novo roteiro de viagem ou um novo esporte para praticar.
Sabe receber as surpresas que a vida traz.
Tem motivos para sorrir, caminhos para seguir e desculpas para partir...

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Senta ao meu lado e coloca seus pés na água.
Fica em silêncio comigo.
Observa como tudo pede calma.
O silêncio do universo é muito barulhento.

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Sou de uma terra onde os pássaros voam livres
Os cavalos cavalgam soltos
Uma terra sem gaiolas nem rédeas
Lá onde os penhascos abrigam pedras-carta
Os ventos assobiam dúvidas e sopram desencontros
A água corre limpa e pode-se beber da fonte
Os galos demoram a cantar pro dia nascer preguiçoso...
As plantas são feitas de raízes fundas
De uma terra onde os amores nascem embaixo de temporal
Mas é ao cair da tarde que os desejos brotam
Os lobos uivam e as libélulas se agitam
Há que se ter cuidado com a noite
À noite os medos crescem
E tudo que era certeza vira possibilidade...
No escuro, moça pura vira bicho